Aticem o fogo bem alto Quero-me dissolver, fundir totalmente; Estirado na ponta da minha bancada Aniquilarei finalmente minhas dúvidas. Deixar-me-ei invadir pelo calor. Um vaso de água fria erradicará o passado. E a tatuagem, feita na impressionável juventude, Esvair-se-á azulada, na esquerda do meu peito. Aticem o fogo bem alto, Perdi-me já para este mundo vil. Embriagar-me-ei pois em vapor, e rugirei alto em meu delírio. Que fés, que demolidas florestas; Que remorsos, que longos caminhos percorridos! No meu peito, lado esquerdo, um perfil de Estaline, E no lado direito a minha Marinka, a face inteira. Então por minha fé indivisa, perdi meus lustros anos de Paraíso. paguei pela minha insensatez Com uma vida despida de alegria. Aticem o fogo bem alto, Perdi-me já para este mundo vil. Embriagar-me-ei pois em vapor, e rugirei alto em meu delírio. Que fés, que demolidas florestas; Que remorsos, que longos caminhos percorridos! No meu peito, lado esquerdo, um perfil de Estaline, E no lado direito a minha Marinka, a face inteira. Recordo-me de uma manhã bem cedo, Apenas o tempo de gritar a meu irmão “socorro!” - e dois jovens guardas, magnífica gente, transportaram-me de uma Sibéria para outra. E depois, na pista de corrida, entre os pântanos, saturados pelas lágrimas e pela humidade, tatuamo-nos com os seu perfil junto ao coração, para ele ouvir o som dos nossos corações quebrando-se. Que fés, que demolidas florestas; Que remorsos, que longos caminhos percorridos! No meu peito, lado esquerdo, um perfil de Estaline, E no lado direito a minha Marinka, a face inteira. Não aqueçam mais a fornalha Esta história causou-me arrepios O vapor percorre-me o cérebro. Necessito tanto sacudir o passado, submergir no calor amigo do vapor; mas as memórias latejam na minha cabeça, e eu carrego em mim estes estigmas em vão tentando afugentar com varas de vidoeiro indeléveis recordações de dias passados. Que fés, que demolidas florestas; Que remorsos, que longos caminhos percorridos! No meu peito, lado esquerdo, um perfil de Estaline, E no lado direito a minha Marinka, a face inteira.
© Joao Paulo Monteiro. Tradução, ?